04/03/2018 - A evolução da espécie e a p%&$# da mamada de 3 em 3 horas.

A maior e mais vísível característica evolutiva do ser humano é o tamanho de seu cérebro e sua enorme cabeça em relação a outros seres vivos. O tamanho e as características do cérebro é que permitem que o ser humano se destaque em relação a outros animais, e o tornaram capazes do desenvolvimento de uma comunicação interpessoal avançada, do raciocínio lógico, do pensamento abstrato e até da possibilidade de escrever besteiras em blogs.

Mas para dar conta desse superprocessador que é cérebro do homo sapiens, o seu desenvolvimento fetal acabou dando muito mais ênfase ao desenvolvimento do sistema nervoso na gestação de 09 meses do bebê humano. O resultado é que ao ser parido, o recém nascido humano é um dos seres mais incompletos que vem ao mundo.

Praticamente todos os filhotes de mamíferos já são capazes de se locomover e se alimentar sozinhos imediatamente ao nascer. São frágeis, indefesos, mas nascem com o sistema esquelético-muscular prontos. Isso não acontece com o ser humano. O bebê recém-nascido é um ser totalmente incapaz de se manter minimamente por si só. Ele não caminha, precisa de auxílio da mãe para ser amamentado e sequer consegue manter sua desproporcional cabeça em uma posição firme, já que seu subdesenvolvido corpinho, além de muito menor, é extremamente frágil.

Os marsupiais (cangurus, p. ex.) também possuem filhotes que não possuem aptidão para se locomoverem sozinhos, mas podem realizar o seu desenvolvimento extrauterino em uma bolsa que a fêmea da espécie possui e propicia a possibilidade de "guardar" o bebê e carregá-lo junto. Algumas espécies de primata que não consegue se locomover sozinhos quando recém-nascidos, conseguem se agarrar à mãe de alguma forma durante seus primeiros dias. O ser humano não tem esses recursos.

Sendo o filhote do homo sapiens um ser tão indefeso, que só conseguir se locomover sozinho com alguns anos de vida, o desenvolvimento da espécie na natureza certamente foi bastante complexo. A total dependência do filhote está intimamente ligada à estruturação social do ser humano em grupos, aptos a proteger a cria de predadores naturais (e preservar a continuidade da espécie). Imagine como seria a sobrevivência da especie se uma mãe solitária tivesse que defender sua cria de uma matilha de hienas na savana africana? Em um grupo social, isso se torna mais viável.

Num cenário desses, como se dá a alimentação da cria? Se utilizarmos algumas das recomendações médicas pediátricas atuais, na qual a mamada TEM que ocorrer de 3 em 3 horas sob pena de o bebê ter problemas, a mãe pré-histórica teria que dar um jeito de parar o ataque das hienas e forçar a cria a mamar, sem o auxílio de chupetas, álcool em gel, fraldas e outras traquitanas, NO HORÁRIO CERTO!! Se isso não ocorrer, o bebê fica hipoglicêmico e isso pode prejudicar o seu desenvolvimento futuro, né?

Sei. Avisa lá as hienas então!!

Embora o corpo do bebê ainda esteja em formação e seja muito sensível, de onde veio a ideia de que se não mamar leite materno a cada 3 horas o bebê fica necessariamente hipoglicêmico? O seu sistema metabólico é tão preciso e tão impiedoso assim? Por que não 5 ou 2 horas? Os intervalos têm que ser fixos? A tarde é igual à madrugada? E por que a hipoglicemia seria uma reação obrigatória ao desatendimento dessa regra? Na pré-história, período que corresponde à maior fase da existência do homo sapiens na Terra, será que vingaram os bebês que ficavam hipoglicêmicos ou os que eram mais aptos a controlar o ritmo metabólico? Tendo a acreditar na segunda hipótese. 

O bebê humano é um ser incapaz, que somente se comunica pelo choro, como todos sabem. E o choro de um bebê geralmente indica frio, calor, incômodo, dor ou fome. Não tem outra. Um recém-nascido ainda não sabe chorar por manha ou porque a mãe não deixou ele jogar videogame até meia-noite. Ora, se uma das poucas coisas que natureza lhe deu foi a possibilidade de chorar por fome, por que a mãe das cavernas iria se preocupar em marcar o período de 3 horas para lhe dar de mamar? Aliás, na idade da pedra, os relógios não existiam, especialmente à noite, tornando essa tarefa ainda mais difícil. Desse modo, não consigo compreender como vingamos como espécie se a mãe Piteca não conseguia evitar essa "obrigatória" hipoglicemia após 3 horas sem leite, regulando-se exclusivamente pelo arcaico sistema natural do choro.

A gente pode ser impertinente e achar que a hipótese genérica do choro de 3 em 3 horas é equivocada como a hipótese de que o ser humano não deve se exercitar em jejum, ou que deve comer de 3 em 3 horas para emagrecer. Não sei a razão, mas o pessoal parece ser vidrado nesse intervalo de 3 horas...

Aliás, não é incrível? Para engordar o bebê teria que comer de 3 em 3 horas. Para emagrecer, o ser humano crescido teria que comer de 3 em 3 horas. Somos seres tão diferentes assim depois que crescemos?

Esses pensamentos me vêem à tona quando percebemos que temos que acordar o Rafael Kenzo de seu sono gostoso e repousante da madrugada para lhe dar de mamar às 03 da madrugada. Ele, em sua ignorância de bebê, não sabe que TEM QUE ACORDAR para mamar para evitar ficar hipoglicêmico e para engordar!!!! Ele prefere o "absurdo" de ficar dormindo de madrugada! É um bebê que seria excelente na época das cavernas, quando não fazer barulho e não chamar a atenção dos predadores da savana africana era bacana.

Mas como ele vive na era moderna, os pais, seguindo o conhecimento pediátrico capaz de modificar a natureza, insistem em lhe acordar para mamar de madrugada, causando-lhe enorme desconforto, stress e irritação, a tal ponto que, no final das contas, a razão pela qual acordou (mamar), acaba não se realizando por recusa do próprio bebê.  

Aliás, para um bebê que deveria estar hipoglicêmico, o Rafael Kenzo parece bem ativo ao recusar a mamada, debatendo-se e acionando, com força total, o mecanismo de que dispõe para se comunicar em razão desse extremo incômodo: o choro. 

O resultado final é que a mamada não obedece o intervalo de 3 horas. E que a insistência nesse prazo de tempo rígido resulta em menos 3 horas de um sono já escasso para pais, além de suprimir o sono do próprio bebê. 

Será que realmente continuamos evoluindo como espécie?




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